>História
INCONFIDÊNCIA MINEIRA
Introdução
Ouro por todos os cantos .... na cabeça daquela gente, sobretudo. Intrigava-se, traia-se, matava-se por motivo fútil, movidos por cega ambição. E houve guerra, que durou três anos entre paulistas e portugueses apelidados de Emboabas (palavras indígena relacionada, segundo a tradição, com as botas que usavam). Os portugueses acabaram vencendo, não sem antes traírem os paulistas junto de um mato que, por essa razão, ficou sendo chamado de Capão da Traição. E os trucidados foram tantos que o rio vizinho, já marcado por tragédias anteriores, mais ainda mereceu o nome de Rio das Mortes (1710). Pouco depois era confiscada e destruída em Lisboa a edição do livro do jesuíta Antonil Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas . Ciumento das riquezas da colônia distante. Sua Majestade receava que o livro atiçasse a cobiça de novos aventureiros.
O Imposto do Quinto
Em Portugal, o rei Dom João V sorria, feliz com a maravilhosa descoberta na colônia distante. E tratou logo de regularizar a coisa, criando no Brasil o imposto do “Quinto” e decretando a fundação de “Casas de Intendência” para fiscalização e controle da produção. Todo aquele que extraísse ouro nas grupiaras, nas minas ou no cascalho dos rios, obrigava-se a levá-lo à Intendência para que fosse pesado, fundido e transformado em barras. A Quinta parte ficava reservada para a coroa de Portugal. As barras, devidamente tocadas, eram datadas e levadas à prensa real, onde recebiam o cunho com as armas portuguesas e o nome da Casa de Intendência na qual haviam se submetido a essa operação, sendo posteriormente entregues ao dono, juntamente com um certificado, assinado pelo intendente, nomeado pelo rei de Portugal declarando ser o Senhor X o legítimo possuidor da preciosa lâmina. Esta valia como dinheiro e com ela negociava-se livremente. Ai daquele que fosse pilhado com o ouro não “quintado” ! Acabava os dias numa masmorra, ou então era degradado para a África. Inconformados, alguns espertalhões burlavam a lei por todos os meios. Diz a tradição que chegaram ao cúmulo de mandar esculpir na madeira imagens ocas de santos, enchendo-as de ouro em pó. Assim camuflado, o contrabando passava facilmente nos postos de fiscalização e era enviado para longe.
A Inconfidência Mineira
O imposto devido ao rei de Portugal aumentava dia a dia, oprimindo e desesperando o povo, que já não sabia mais de onde tirar ouro para atender a “Derrama”. Sonhos de liberdade e independência foram tomando corpo, alimentados põe leituras de Rousseau e Voltaire. E começou-se a conspirar. Um pretexto para a revolta foi a chegada do Visconde de Barbacena, então governador da Capitania (1788), encarregado de fazer vigorar nova e pesada taxa suplementar de impostos. Pessoas inteligentes, cultas, estavam implicadas no plano: magistrados e poetas, como Cláudio Manuel da Costa, antigo secretário do governo, autor do poema “Vila Rica” e Tomás Antônio Gonzaga, que escreveu “Marília de Dirceu”, considerado como “o mais belo e célebre poema de amor da língua portuguesa”. O mais entusiasmado na conspiração era o alferes Joaquim José da Silva Xavier (1748 – 1792), apelidado de Tiradentes. “pela prenda de pôr e tirar os dentes”. Idealista, impetuoso e inocente; o alferes não se continha e espalhava a idéia por todos os cantos, o que lhe acabou sendo fatal. Tiradentes nasceu na Fazenda do Pombal, região do Rio das Mortes, hoje município de Ritápolis.
A Traição
Do movimento, mais tarde conhecido como “Inconfidência Mineira”, só restou o ideal, porque os conspiradores foram denunciados pelo Coronel Joaquim Silvério dos Reis, que contou o plano ao Visconde de Barbacena, traindo os companheiros em troca de pensão para o resto da vida, perdão de suas muitas dívidas e medalha para o peito infame. O Visconde de Barbacena imediatamente suspendeu a “Derrama” e mandou prender os inconfidentes. Os castigos incluíram desde pena de morte, degredo perpétuo ou temporário até confisco de bens. Cláudio Manuel da Costa, ao que consta, teria se enforcado na Casa dos Contos de Vila Rica, onde o levaram preso. Gonzaga seguiu desterrado para Moçambique, pois tivera a pena de morte comutada, assim como os outros. Todos, menos Tiradentes.
O Enforcamento
Tiradentes não negou a culpa, como os outros, e chamou a si a responsabilidade da conspiração. Desarmado pela própria pureza, abandonado na hora grave, sem defensores nem dinheiro, enfrentou três anos de prisão e suportou a desgraça sozinho. Conta-se que, quando o carrasco foi busca-lo na cela e, segundo o ritual, lhe pediu perdão pelo que iria fazer, o alferes humildemente lhe quis beijar os pés, as mãos e se lhe entregou sem resistência.
O corpo de Tiradentes foi esquartejado e seus membros ficaram expostos em lugares diversos. A cabeça foi exibida como troféu em cima de um poste na praça de Ouro Preto que hoje tem seu nome.
Estes dados foram baseados no ensaio “Três séculos de Minas”, do professor Francisco Iglésias, publicado durante o 8º Festival de Inverno de Ouro Preto. |